Entre as
características da forma urbana que influenciam a vitalidade dos espaços
públicos, um dos fatores mais determinantes é o traçado das ruas e sua
configuração. Essa influência pode ser dividida, grosso modo, em dois tipos:
local e global.
Características locais da malha viária
Localmente,
a principal característica do traçado viário associado a maior movimentação de
pessoas e vitalidade nas ruas é o tamanho do quarteirão. Jacobs (1961) defendia
as quadras curtas como um dos elementos geradores de diversidade urbana.
Segundo ela, isso gera alternativas de percursos e possibilita que os fluxos se
distribuam por ruas que, de outra maneira, permaneceriam desertas. Quadras
longas dificultariam o acesso de pedestres a ruas vizinhas, tornando apenas
algumas ruas mais movimentadas e deixando outras esvaziadas, mesmo que a rigor
estas estivessem próximas àquelas. Quadras curtas, por outro lado, permitiriam
acesso a várias direções dentro de limites razoáveis de distância.
A configuração da malha de viária: aspectos globais
Apesar do
possível efeito dos aspectos locais sobre o movimento de pedestres e a
vitalidade de uma área, são as características configuracionais da malha –
entendidas como aquelas que levam em conta as relações de um espaço em relação
a outros – as que possuem maior influência sobre esses aspectos que faz uma
revisão de abordagens urbanísticas clássicas e chama a atenção para seu caráter
estritamente local). A posição e a distância de um espaço em relação a todos os
outros espaços da malha urbana é um dos principais determinantes da quantidade
de pedestres que passam por ele.
Esse
conceito de distância e seu papel na distribuição de fluxos, entretanto, apesar
de sua simplicidade e apelo intuitivo, impõe seus desafios. À primeira vista
seria possível imaginar que o conceito de distância métrica, euclidiana (ainda
que através da rede de ruas) seria a mais indicada para “capturar” essas
distâncias urbanas. Espaços cuja distância média a todos os outros espaços do
sistema são menores (portanto mais próximos), são chamados de “integrados”; ao
contrário, espaços mais distantes ou profundos em relação a todos os outros são
chamados de “segregados”.
Outra maneira de capturar a distribuição de
movimento proporcionada pela configuração do sistema viário é a medida de
Escolha (HILLIER; IIDA, 2005). Ao contrário da integração, essa abordagem
prioriza não a distância entre um espaço e todos os outros espaços do sistema,
mas o quanto esse espaço é usado como passagem. A imagem abaixo mostra três
pares de espaço com seus caminhos mínimos (a, b e c). A imagem d mostra o que
seria uma “superposição” dos caminhos mínimos mostrados nas três primeiras
imagens, e nela vemos que alguns trechos de quarteirão estão localizados, mais
vezes que outros, nos caminhos mínimos exemplificados e, portanto, são mais
centrais ou, em nos termos usados pela Teoria da Sintaxe Espacial, possuem
maiores valores de escolha.
"A maioria
do movimento em áreas urbanas é movimento de passagem. A maioria das pessoas
que você vê andando em uma rua tende a estar vindo e indo para outras ruas.
Entretanto, sua presença é um dos maiores recursos das cidades. A presença de
pessoas faz os espaços serem percebidos como vivos e seguros, e são o principal
pré-requisito para a vida econômica da cidade." Penn et al (1998, p. 82).
Portanto,
a vitalidade de um espaço é, em grande medida, influenciada pela posição que
ele ocupa na malha, isto é: a) o quão perto ou distante ele está de outros
espaços; e b) o quão “central” ele é em relação aos outros espaços e, por isso,
é utilizado como caminho entre pares de espaços.
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