O plano de Cerdá e os miolos de quadra
Em seu plano para a expansão de Barcelona, realizado em 1859 (chamado
Eixample), Cerdá previa que todas as quadras possuíssem pátios internos
públicos, sendo que a grande maioria delas teriam apenas dois dos
quatro lados ocupados por edificação; algumas previam três lados, como
pode ser visto na imagem abaixo:
Entretanto, desde o início da implementação do plano de expansão, o jogo de forças políticas acabou resultando na ocupação quase que total dos quatro lados das quadras e de todos os seus miolos. Se olharmos uma imagem aérea atual vemos claramente que esse é o padrão dominante.
A recuperação dos miolos de quadra como espaços de lazer
Diante desse quadro, a municipalidade de Barcelona deu-se conta de
que deveria fazer alguma coisa para modificar essa situação e, assim,
passou a atuar para viabilizar a reconversão das áreas internas às
quadras para espaços abertos de lazer. Em 1985 o pátio de les Aigües foi
adquirido pelo Poder Público e, em 1987, foi completada a transformação
do miolo de quadra em área pública, que preservou a bela Torre de Água
ali existente. As imagens abaixo mostram a situação anterior, com os
espaços interiores privatizados, e a situação após a renovação. É
possível notar que ainda existe uma parcela significativa ocupada pelas
unidades privadas, mas a parte mais central foi liberada como espaço
público. Abaixo, foto antes da renovação:
Após a renovação:
Desde a década de 80, 46 pátios internos foram recuperados no Eixample. Durante essa iniciativa, e animada pelos resultados já obtidos, a municipalidade aprovou a “Ordenanza de Rehabilitación y Mejora del Eixample“,
plano que, além de proteger o patrimônio arquitetônico, passou a
incentivar a liberação dos pátios internos. Dessa forma, as
substituições de edificações e as ampliações deveriam deixar liberado o
pátio central a partir de uma vez e meia a largura da edificação (o que
explica a relação entre áreas privadas e a área pública na imagem
acima). Para viabilizar as modificações pretendidas, são permitidos
aumentos na intensidade de ocupação do solo. Além disso, como um dos
objetivos é que as fachadas antigas sejam mantidas, em grande parte dos
casos não há acesso direto da rua, como será visto mais adiante, sendo o
acesso feito por meio de uma das edificações.
Em 1996 foi criada a ProEixample, uma empresa pública encarregada de
promover o Eixample como espaço de atividades econômicas e organizar as
ações para a recuperação dos pátios, incluindo a aquisição dos terrenos e
a elaboração dos projetos.
Em 2000, o Plano General Metropolitano (PGM) é modificado
para incluir um novo tipo de zona residencial dentro do conjunto do
Eixample, a “zona de densificación urbana 13E” (Pazos, 2014b). A partir
disso, fica instituída no plano geral a obrigatoriedade da manutenção do
pátio livre, o que deu maior força à iniciativa e a tornou parte
consolidada da política urbana de Barcelona. Ao todo, foram recuperados
e/ou criados 46 pátios, como pode ser visto na imagem abaixo. Cabe
ressaltar a sua distribuição pelo tecido, o que contribui para que todas
as áreas do Eixample tenham acesso facilitado a alguma dessas áreas
públicas.
Estrutura e funcionamento dos novos pátios internos
Os principais usuários são crianças menores de 12 anos e os adultos que as acompanham.
Segundo Teresa Pazos, que desenvolveu seu trabalho de mestrado sobre os pátios internos públicos em Barcelona, este são “recinto
fechados, de uso público mas limitado ao horário diurno, com acesso a
partir da rua por passagens por baixo da edificação ou aberturas
estreiras. […] Seu tamanho é inferior a 40% da quadra, com uma
superfície que varia entre 400 e 4.000 m2.” (Pazos, 2014b, p. 154).
Ainda segundo essa autora, apesar de não possuírem um padrão uniforme, a
maior parte deles possui jardins, áreas para crianças e quadras
esportivas. Os principais usuários são crianças menores de 12 anos e os
adultos que as acompanham.
A estrutura geral também varia. Algumas quadras, especialmente
aquelas cujos miolos foram recuperados sem haver grande modificação nas
edificações que compõem o perímetro, não possuem ligação direta com a
rua. Esse acesso é feito através de usos públicos localizados em uma das
edificações, como por exemplo uma biblioteca. Dessa forma é feito o
controle de acesso, que é interrompido à noite.
As quadras mais recentes, que foram resultado de novas construções
sobre, por exemplo, antigas fábricas, possuem funcionamento diferente. A imagem abaixo mostra a área
infantil, com espaços para sentar ao redor, e os novos edifício ao
fundo.
http://urbanidades.arq.br/2015/04/patios-internos-em-barcelona/
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