sexta-feira, 20 de maio de 2016

Tipos de desenho urbano.


O desenho urbano, por ficar na maioria das vezes entre as “escalas” do planejamento urbano e da arquitetura, acaba sofrendo pela indefinição dos instrumentos mais adequados para a sua implementação. O desenho urbano por sí só é uma disciplina cuja definição é problemática e sujeita a várias controvérsias. Muitas das tentativas de definição partem do que ele não é, ao invés de dizer exatamente o que ele é . Schurch (1999) nota que disciplinas emergentes, como o Desenho Urbano, carecem de definições consolidadas, e possuem referenciais teóricos vagos ou amplos demais.
O livro “Urban Design: a typology of procedures and products”  (LANG, 2005) classifica os processos de desenho urbano em quatro tipos:
Essencial para um bom entendimento do desenho urbano é saber por quem as decisões são tomadas, e com qual encadeamento.
1.     Desenho Urbano “total”: uma única equipe controla todo o projeto. Esse tipo é raro de se encontrar, ao menos aqui no Brasil.
2.     Desenho urbano “all of a piece”: uma equipe cria um plano geral que oriente as intervenções de diversos empreendedores, cada um com sua própria equipe. Um exemplo desse tipo é o Loteamento Pedra Branca, em Palhoça, SC. Lá, uma equipe norteamericana (DPZ), com a ajuda de arquitetos brasileiros, fez um masterplan para a área. A seguir, vários escritórios de arquitetura foram contratados para projetar as quadras que compõem a proposta geral.
3.     Desenho Urbano “piece-by-piece”: neste caso, a produção das edificações é feita a partir de centenas ou milhares de decisões individuais que, entretanto, devem obedecer a um conjunto de normas gerais. Sendo assim, a construção de edificações é controlada por zoneamentos, incentivos e penalidades.
4.     Desenho Urbano “plug-in”: remete ao conceito de “acupuntura urbana”, segundo o qual intervenções pontuais no tecido urbano seriam capazes de produzir consequências benéficas para o entorno e, talvez, para toda a cidade.

Desenho Urbano “all-of-a-piece”: Loteamento Pedra Branca – Palhoça – SC.

                        Desenho Urbano “all-of-a-piece”: Loteamento Pedra Branca – Palhoça – SC.


Desenho Urbano “all-of-a-piece”: Loteamento Pedra Branca – Palhoça – SC.

O terceiro tipo: piece-by-piece é o que mais afeta a sociedade como um todo, visto que os outros tipos referem-se a situações muito mais localizadas e atreladas a poucos decisores e/ou promotores. O terceiro tipo, ao contrário, deveria ser uma preocupação de toda prefeitura em relação à sua malha urbana como um todo. Entretanto, não é isso que vemos. Na imensa maioria dos casos, a legislação urbanística limita-se a definir índices genéricos de ocupação, e faz muito pouco para conduzir a produção das edificações na direção de tipologias que favoreçam a permeabilidade entre o público e o privado, a geração de olhos da rua para minimizar a insegurança nos espaços públicos, e a valorização do pedestre em detrimento do automóvel.

Tipologias resultantes de um mesmo conjunto de parâmetros de zoneamento. Muitas delas são “anti-urbanas”.

A imagem acima mostra que, para um mesmo conjunto de parâmetros, é possível uma grande variedade de tipologias. Até aí não há problema; este surge porque várias dessas tipologias são agressivas ao pedestre e não incentivam a permanência e a apropriação dos espaços públicos. Um caminho possível seria a adoção de zoneamentos mais sensíveis à forma urbana. Os Form Based Codes são muito interessantes nesse sentido, um exemplo é o de Benícia, nos EUA, que estabelece diretrizes para vários aspectos das edificações, exigindo, por exemplo, que mantenham relação de permeabilidade e proximidade com a rua, usos comerciais no térreo, garagens apenas nos fundos do terreno, etc.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LANG, Jon. Urban Design: a typology of procedures and products. Amsterdam: Elsevier, 2005.
NETTO, Vinicius de Moraes; SABOYA, Renato. A urgência do urbanismo: uma crítica aos instrumentos usuais de planejamento. Arquitextos – Vitruvius, 2010.
SCHURCH, Thomas W. Reconsidering Urban Design: thoughts about its definition and status as a field or profession. Journal of Urban Design, v. 4, n. 1, p. 5 -28, 1999.


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