Em
um processo de análise urbana com a finalidade de entender suas necessidades e,
através dessas, propor e planejar ações de diversas naturezas, é recorrente a
exigência em delimitar um espaço para a realização do exame e atuação já
ditas. Para tal, é frequente a admissão
do espaço político e administrativamente determinado, o qual é, com a mesma
frequência, percebido enquanto um procedimento justo e eficiente para a realização
das deliberações voltadas ao espaço urbano e as diversas relações que neste se estabelecem.
No
entanto, paralelamente, a tradição metodológica (pelo menos aquela sempre
disseminada nos cursos de urbanismo) de compreender a conformação do espaço
urbano é colidida com outra que, por sua vez, não tem sua estrutura em bases
legais ou políticas. Essa segunda possibilidade de método ordena o espaço a ser
estudado perante suas intrinsidades de ordem física ou material: uma serra, um
rio, uma rodovia ou a associação desses e demais elementos presentes no espaço
em questão.
De
imediato, essa outra possibilidade pode ter um eco brevemente ordinário, mas ao
lançar todos os “por ques” à sua utilização e efetividade é possível perceber
que a resposta, absoluta e simples, carrega em si todas as complexidades do
espaço observado. Essas particularidades em muitos casos estão além (ou também
aquém) do espaço determinado pela organização administrativa do município.
Então,
por que basear a análise nesse segundo procedimento que observa as qualidades
físicas da região, e não proceder de acordo com a determinação política do
espaço? Simplesmente pelo fato de as condições físicas exercerem uma atuação na
vida urbana e nos seus fluxos, estabelecendo-os, interrompendo-os e
conduzindo-os, enquanto o espaço definido pela administração legal do
município, muitas vezes, se torna abstrato ou obsoleto perante ao acontecimento
e exercício da vida no espaço urbano.
Esta
forma de entender e proceder sobre o espaço urbano, antes ordinário, exerce
agora um sentido ético: a conformação oficial do espaço deixa de ser o cerne do
planejamento, mas esta ação passa a ser ordenada pela força e a dinâmica
próprias da vida coletiva.
Piet
Mondrian, pintor neerlandês atuante no século XX, muito contribuiu para o
pensamento atual de arquitetura e urbanismo através de seus textos publicados,
os quais expandem e melhor esclarecem a questão aqui levantada. Embora
observasse a arquitetura através do desenvolvimento de suas análises sobre a
emergência de um novo sistema de conceber a arte – o ainda virtual neoplasticismo -, Mondrian conceitua a produção
do espaço para além do domínio estético ou funcional, promovendo o pensamento
do campo elevado à ordem ética. Assim, de acordo com o artista, a efetivação
dos espaços e da arquitetura deve corresponder com a objetividade da cultura, e
estar disposta frente à diversidade de impasses e questões que com ela
interagem. Ao considerar as perspectivas da arquitetura e as necessidades da
vida humana é estabelecida, então, a participação e conformação entre ambos.
Por
fim, amparada pela teoria desenvolvida por Mondrian, e por tantos outros que
muito empreenderam esforços nos estudos sobre o espaço, a reflexão aqui posta
procura entender o papel do projeto urbano ou, até mesmo, de arquitetura, além
de questionar o perigo da existência de uma metodologia ideal e única.
Referências Blibliográficas:
MONDRIAN, Piet. Os grandes bulevares. Amsterdã, 1920.
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