Na medida em que nos tornamos um planeta de seres urbanos,
planejadores e projetistas têm a missão de conceberem comunidades que tenham um
desempenho melhor que nunca. Mas o que exatamente significa
"desempenho"? Comunidades devem contam com sistemas de economia
de energia e água, mas em outro nível, elas também exigem uma abordagem mais
holística que busque criar um sentimento de lugar e de conexão, sendo, ao mesmo
tempo, acessível a diferentes classes e vibrante durante todo o dia. A
seguir, compartilhamos estão cinco ingredientes essenciais para a
concepção de uma comunidade de alto desempenho.
1. Potencializar a mobilidade
Comunidades de alto desempenho, em
termos de desenho, exigem acesso ao trânsito local e regional, assim como
facilidade de movimento em várias formas de transporte, como caminhar,
pedalar e outras formas de mobilidade alternativa. Mas não é suficiente para
cidades terem transporte público, o desafio frequentemente está em transportar
as pessoas entre esse trânsito e suas casas ou outro destino. Para atingir este
novo nível de conectividade nas comunidades, precisamos mudar duas coisas.
Primeiro, existe esta generalização que as ruas são principalmente
utilizadas para dirigir. Ao invés disto, precisamos estabelecer uma hierarquia
de ruas, enquanto em algumas ruas os carros são prioridade, outras enfatizam a
segurança dos ciclistas, e outras são espaços maravilhosos apenas para as
pessoas caminharem. Quanto mais conectada a comunidade, maior é a chance das
pessoas se sentirem mais confortáveis em trocar os diferentes modais de
transporte. Um conceito que é frequentemente mencionado na discussão de
conectar comunidades com transporte é a ideia de
"primeiro-último quilômetro", que descreve o desafio de conectar
pessoas ao transporte e contornando a barreira da primeira e última
milha, tipicamente voltada para o trânsito. É esta barreira do "último
quilômetro" que leva muitas pessoas a dirigir ao invés de optar por
transporte público, e exemplifica como precisamos melhorar conexões entre
diferentes modos de transporte em sua escala mais exitosa para ajudar pessoas a
se locomoverem de maneira mais fácil, da mobilidade regional ao trânsito
local.
2. Foco na intensidade
Quando se
trata de transportes, outra consideração de projeto relacionada a performance é
desenvolver comunidades onde a alta intensidade de usos - sejam seles
comerciais ou residenciais - estão dentro de uma distância de cinco minutos
com transporte público, com intensidades de desenvolvimentos diminuindo a
medida que se distancia destas estações. Como um exemplo deste princípio de
projeto em uso hoje em dia, a cidade de Fremont, na California implementou a nova estação
de BART (sigla para Bay Area Rapid Transit
- Trânsito Rápido da Área da Baía, em tradução livre) de Warm Springs
com alta intensidade de uso localizado a menos de cinco minutos a pé da
estação de BART, intensidades médias localizadas entre cinco e dez minutos a pé
e usos de intensidade baixa para além destas distâncias. Ao utilizar
tais regras básicas, o plano prevê áreas para aumento da intensidade dos
usos comerciais ou residenciais, em vez de mapear a localização de cada
utilização única. Desta forma, o plano pode se desenvolver ao longo do tempo, e
a comunidade pode se moldar para acomodar futuras inovações.
3. Foco no pedestre
Além de
utilizar as ruas para diferentes modos de trânsito, precisamos fazer melhor ao
desenhar o modal mais fundamental: o caminhar. Se olharmos para nossas calçadas
como um tipo de infraestrutura de trânsito, o que nós precisamos fazer para
fazer com que mais pessoas caminhem? Criar quadras com medidas apropriadas é
crítico para as métricas em relação à facilidade de caminhar pelas ruas,
comumente referido como walkability. Projetar
ruas e quadras onde o pedestre encontra um cruzamento a cada 80 metros garante
que as quadras são caminháveis. Um intervalo de quadras de 80 metros de
comprimento produz cerca de 150 cruzamentos por quilômetro quadrados, e quanto
mais cruzamentos por quilômetro quadrado, maior a rede de conectividade do
pedestre. Uma rede com ruas com alto índice de conectividade proporciona ao
pedestre uma rota mais direta e mais escolhas de como ir de um lugar ao outro incentiva
mais pessoas a sair de seus carros e caminharem.
Belas ruas para caminhadas devem ser largas o suficientes
para duas ou mais pessoas caminharem lado a lado de maneira confortável na
calçada, possuir árvores e outros elementos paisagísticos, e estarem alinhadas
com comércio e outras atividades nos térreos das edificações ou repletas
de alpendres, escadas, varandas e portas em áreas residenciais. Para
incentivar ainda mais as pessoas a caminhar, centros de vizinhança e outras
centralidades de atividades devem estar não mais de 5 a 10 minutos a pé de suas
casas e locais de trabalho, e incluem uma variedade de usos, dando aos
trabalhadores e residentes a oportunidade de realizarem suas
atividades diárias e desfrutar da vida urbana sem utilizar seus carros.
4. Espaços públicos bem quistos
O próximo princípio em criar uma comunidade de alto desempenho é cultivar espaços públicos que são bem quistos para a população, como uma área central de uma vizinhança. Pessoas adoram e são atraídas por espaços públicos de alta qualidade que sejam confortáveis, vibrantes e acessíveis a todos. Uma rede de espaços abertos bem desenvolvida como espaços públicos, como áreas verdes, praças ou áreas de orla, independente do clima, são elementos valiosos para comunidades.
Por exemplo, o projeto de Perkins+Will para a Chaudière Island no Canadá começou estabelecendo um quadro
robusto de espaços públicos. Esta rede inclui uma variedade de tipologias
espaços abertos incluindo parques, praças, parquinhos infantis, e passeios
junto a orla, todos dentro de uma distância caminhável para residentes e trabalhadores.
Este quadro de espaços abertos foi ligado a uma rede de ruas e caminhos
voltados para os pedestres, assim como ciclovias adequadas e pistas
compartilhadas.
5. Vibração social
Um primeiro passo crítico para uma cidade ou
vizinhança é determinar um nível desejado de vibração. Esta comunidade será um
tranquilo distrito residencial, ou um animado centro de atividades? Será uma
comunidade de 8h, 12h, ou de 24h? Estas questões são objetivas e não
estabelecem um valor maior em um tipo de bairro em detrimento de outro. Elas
simplesmente auxiliam projetistas e políticos a determinar as estratégias
apropriadas necessárias para alcançar os resultados desejados. Um grande
exemplo é a Adams Morgan em Washington, DC, que é um
distrito 24h devido a seu constante movimento de quase 30.000 residentes que
vem e vão todas as horas do dia. A comunidade tem uma vida noturna popular
incrível com bares e restaurantes que ficam aberto até tarde atraindo turistas
e moradores locais.
Os últimos 50 anos de desenvolvimento urbano
nos Estados Unidos tem sido caracterizada pela expansão suburbana de baixa
densidade. Isso criou uma perda de vitalidade social nas cidades e comunidades.
Mais e mais pessoas estão procurando e demandando lugares com uma maior
sensação de vibração. Este é o caso da Bay Area de São
Francisco. Nas últimas décadas a Bay Area se tornou
um epicentro global de gastronomia, arte e cultura. Núcleos centrais vibrantes
como São Francisco ou Oakland estão no fronte ao proporcionar seus residentes
as comodidades culturais que eles necessitam. Isto não é um acidente.
Existe uma combinação chave de ingredientes e uma receita simples que permitiu
que isso acontecesse. A receita é uma combinação de acessos à trânsito efetivo
e focadas na intensidade de densidades residenciais e comerciais. Em
nenhum lugar isso é mais aparente do que no centro de Oakland. Apenas 10 anos
atrás, o Bairro Uptown em Oakland não tinha muita vida noturna ou turistas que
vagueavam fora do caminho comum. Agora que a população residencial cresceu para
mais de 7.700 pessoas por quilômetro quadrado, a comunidade está viva
e movimentada durante o dia, atraindo novos inquilinos comerciais, e também à
noite, resultando em uma vida noturna florescente e cena cultural. Ao aumentar
a densidade residencial perto do transporte, Oakland serviu-se um centro
saudável e vibrante que está atraindo novas empresas, lojas e restaurantes.
Com grandes edifícios multi-familiares,
empreendedores frequentemente podem ser mais cuidadoso ao escolher um
inquilino para o térreo de seus edifícios ao invés de uma aposta segura como
uma grande rede de lojas ou um banco. Não apenas define o tom para as ocupações
do resto da rua, mas também tem o poder de gerar um maior valor para os usos de
pavimentos superiores. Estes princípios de projeto estão no coração do
planejamento dos térreos da Mission Rock em São Francisco. Os inquilinos
programados para os espaços comerciais do projeto serão cuidadosamente
selecionados para criar uma comunidade ativa e definir um tom desejável de
vizinhança. Isso foi uma lição aprendida no Ferry Building de São Francisco, onde a mistura de
comércio pequeno e local no térreo foi a chave para o sucesso do projeto ao
criar um espaço de escritórios altamente desejável nos pavimentos superiores.
Em ambos os casos, quem faz a gestão das propriedades deve ser cuidadoso não
deixar que o comércio seja vítima de seu próprio sucesso, garantindo que a
mistura especial de lojas permaneça, ao invés de optar por redes de varejo para
incrementar renda.
Na medida em que mais pessoas optam por
morar em ambientes urbanos, necessitamos trabalhar na
adaptação e desenho de nossas cidades, visando criar espaços de alto
desempenho. Necessitamos pensar de maneira mais criativa sobre como nós
conectamos nossos vários modais de transporte, e garantir o investimento em
infraestrutura peatonal. Espaços confortáveis são bem quistos por
trabalhadores, residentes e turistas, e a atenção à vibração social faz com que
as cidades permaneçam vivas 24h por dia. Vimos como, ao incorporar esses
cinco princípios, podemos moldar comunidades de alto desempenho
para as pessoas trabalharem e viverem.
Referência bibliográfica:
Friedman, NOAH; Hall KRISTEN. Traduzido por
Pedrotti, GABRIEL. 5 passos para criar comunidades de alto desempenho. Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/784623/5-passos-para-criar-comunidades-de-alta-performance>. Acesso em: 25 abril. 2016.
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